Ucin Gama

A presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, e o presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (Cesc), Reginaldo Veras, fizeram inspeção surpresa, nesta terça-feira (12), na maternidade do Hospital Regional do Gama (HRG), que sofreu intervenção da Secretaria de Saúde e, após por anos ter sido modelo, hoje, sofre com a falta de condições para atender os cerca de 500 partos por mês.

Segundo os servidores explicaram ao distrital e a presidente do SindSaúde, a Unidade Intermediária de Cuidado Neonatal (Ucin) atendia a 800 partos por mês desde que o centro obstétrico do Hospital de Santa Maria (HRSM) havia sido fechado por conta de problemas com a terceirização – entregue a organizações sociais.

Na unidade, o deputado e a presidente ouviram dos servidores relatos das consequências negativas que a mudança patrocinada pelo governo, sem a anuência dos servidores, trouxe para o hospital que até a mudança era considerado referência na assistência neonatal pela Unesco.

Após os relatos e a visita que durou aproximadamente duas horas, na noite desta terça-feira, o deputado Reginaldo Veras afirmou ter ficado impressionado com a situação da neonatal do Gama e que visitará o HRSM para ver a atual situação.

“Vamos aprofundar nessa situação e cobrar explicações da Secretaria de Saúde. Antes, porém, vamos visitar o Hospital de Santa Maria para averiguar as condições de lá. O que pude observar aqui é a falta estrutura física e servidores, o que é terrível. Além de uma série de quebra de protocolos”, declarou Veras.

A presidente do SindSaúde explicou que a quebra de protocolos gerada pela atitude da pastas pode levar a sérias consequências, mas acaba sendo necessária para que as mães não deixem de ser atendidas.

“Os servidores do Gama não se escondem e aqui ninguém volta para casa. Eu fui servidora aqui por 32 anos e não posso aceitar que a Secretaria de Saúde faça isso com esse hospital que foi referência para todo o Distrito Federal, com reconhecimento da Unesco, e hoje se encontra dessa forma”, lamentou Marli Rodrigues.

Maquiagem

Sem aviso prévio, a Secretaria de Saúde, já na gestão de Humberto Fonseca, decidiu transferir leitos, mobiliários e servidores para o centro obstétrico de Santa Maria, praticamente acabando com a unidade neonatal do Gama. A previsão da pasta era que com a transferência da unidade, o HRG teria sua demanda por partos drasticamente reduzida, mas não foi o que ocorreu.

Apenas em janeiro deste ano, 408 mães tiveram seus partos atendidos no HRG. Ou seja: some-se a isso pelo menos mais um paciente, caso do bebê que acaba de nascer e precisa de cuidados médicos, o que dobra esse número. Em fevereiro foram mais 214 mães e março, até o dia 12, 343, de acordo com o livro de relatório de enfermagem apresentado a Reginaldo Veras.

Improviso

Os servidores explicaram ainda que com o fechamento de espaços que eram dedicados aos cuidados às mães e recém-nascidos, foi necessário o improviso de áreas. O local onde as mães ficam com seus bebês após o parto fica longe do setor de terapia intensiva, o que no caso de uma emergência à distância até uma incubadora é grande, os neonatos precisam ser levados nos braços, o que gera uma série de riscos para a vida da criança.

Além disso, o espaço que serve como unidade de terapia intensiva (UTI) para as crianças também está improvisado e ficando ao lado da sala de parto, o que pode causar contaminações no ambiente e acabando em muitos casos com a privacidade das mulheres.

Incubadoras escondidas

A Secretaria de Saúde levou praticamente todas as incubadoras e as que sobraram tiveram que ser escondidas por servidores para que o hospital não ficasse sem nenhuma. Ainda assim, o espaço não é ideal.

Das cinco incubadoras que restaram apenas quatro podem ser utilizadas por não haver onde coloca-la. No momento de nossa visita, todas elas estavam ocupadas. Questionada sobre o que aconteceria caso outra criança precisasse de suporte, a pediatra de plantão mostrou descrença. “Não sei o que faremos”.

O pós-parto das crianças também está prejudicado. A sala onde é feita a limpeza dos bebês não tem condições para fazer a limpeza dos neonatos e os servidores precisam improvisar. No momento em que o presidente da Cesc e Marli Rodrigues conversavam com servidores, uma mãe com o vírus HIV deu a luz a uma criança, que precisou de cuidados especiais, porém em condições mínimas.

“Se um dia acontecer algo mais sério, uma contaminação, por exemplo, ainda vão falar que a culpa é nossa”, desabafam os servidores.

Negativa de leitos

A solução para alguns casos seria a transferência dos bebês mais problemáticos para o HRSM, mas não é o que tem acontecido de fato. A Secretaria, de acordo com os servidores, havia prometido que uma ambulância ficaria exclusivamente no local para que fosse feito o transporte de urgência para a unidade vizinha, porém o carro nunca foi enviado para o Hospital do Gama e os médicos dependem da ajuda de ambulâncias do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para fazer a transferência.

Os problemas não param por ai no que diz respeito à transferência dos bebês. Os servidores contam ainda que a unidade neonatal do HRSM em algumas oportunidades se recusou a receber as crianças e que já houve caso de óbito por conta de negativas.

“O bebê precisava de uma UTI e aqui não tínhamos. Ao pedir transferência para lá, informamos que a criança estava colonizada (quando há indício de contaminação por bactérias) e eles disseram que não a receberiam, mesmo ela estando em situação delicada, para não infectar o berçário de lá”, contou uma servidora.

Ao invés de serem recebidas no HRSM, que é gerido ainda por OSs, as crianças precisam ir para a regulação de leitos da Secretaria de Saúde, para quando houver vaga eles serem transferidos. “Eles haviam prometido que, após a transferência dos leitos, a vaga seria nossa em no máximo 12 horas. Agora eles nem aceitam os bebês”.

Falta servidor

A falta de pessoal, recorrente em toda a rede de saúde, também é um agravante na Ucin do Gama. A escala costuma ter, de acordo com a escala mostrada pelos servidores, três técnicos de enfermagem, um enfermeiro e um médico obstetra e outro pediatra. O número não é suficiente para o atendimento adequado e é servidores precisam se desdobrar.

Há ainda o caso de servidores que tem saído dos quadros por aposentadoria e que não têm sido repostos pela pasta, além de frequentes atestados médicos por conta do excesso de trabalho e stress vivido na unidade.

Desmentido

Durante audiência pública na Câmara Legislativa, na última semana, o secretário de Saúde Humberto Fonseca disse não serem verdadeiros os relatos que já haviam sido denunciados por servidores ao SindSaúde. Com o testemunho dado pelos servidores ao presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura, Reginaldo Veras, o SindSaúde espera que haja mudanças e que seja devolvida a Ucin para o Gama.

A constatação que fica é que há no governo um projeto de sucatear as unidades de saúde do DF, usando como preço a vida de pacientes, para que elas sejam entregues à organizações sociais.

Por Suzano Almeida, do SindSaúde

Sobre Danilo Rigamonte

Analista de sistemas, pós graduado pela Universidade de Brasília em Objetos, Sistemas Distribuídos e Internet.

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2 comentários

  1. Sou a favor da uber trabalha em Brasília DF.

    • Anna Cléa Maduro

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