Por Ísis Dantas
Um vídeo de uma cena da peça teatral “O Auto da Camisinha”, explicando como utilizar um preservativo masculino, causou polêmica nas redes sociais e fez o debate chegar ao plenário da Câmara Legislativa nesta terça-feira (22). Durante a sessão desta tarde, uma moção de repúdio à apresentação da peça em escolas públicas do Distrito Federal polarizou a discussão entre os distritais – que, por nove votos a oito, acabaram aprovando a proposta.
Voltada para o público adolescente, a peça “O Auto da Camisinha” trata de temas como sexo e doenças sexualmente transmissíveis, a exemplo da Aids, de maneira direta e com linguajar popular. O espetáculo, do grupo teatral Hierofante, já foi exibido em vários estados do Brasil e em outros países, como os Estados Unidos.
Na ocasião, o deputado Professor Reginaldo Veras (PDT), contou que a filha assistiu à peça quando tinha 15 anos e saiu em defesa dos artistas do grupo teatral e da direção do CEF 3 de Planaltina.
“Eu assisti à peça. Minha filha tinha 15 anos de idade – hoje ela é uma moça de 19, universitária – quando assistiu à peça, ao meu lado. E eu, como professor, pai e avô, posso dar aqui – não vou fazer um discurso – um depoimento. E vou fazer com um mínimo de embasamento, como bom professor que sou”, disse Veras.
Ele lembrou a situação de vulnerabilidade social dos alunos daquela escola, que registra inúmeros casos de gravidez na adolescência e está cercada por três bocas de fumo. E ressaltou que sendo uma região de vulnerabilidade social, a temática educação social em sua totalidade consta dos parâmetros curriculares nacionais – é um tema transversal. “Logo, a escola não só está autorizada a trabalhar como é obrigada, senão estará sendo omissa em seu papel”.
“Senhores, a escola em questão está inserida em uma área de vulnerabilidade social. É uma população – basta ver os índices de IDH, os quais eu fiz questão de ver – extremamente carente e dependente de toda a assistência do serviço público. Na escola há um número incontável de jovens grávidos. Quando digo “jovens grávidos”, refiro-me a meninos e meninas – ninguém faz gravidez sozinho; é um ato compartilhado de responsabilidade, ou de irresponsabilidade. E a escola tem que trabalhar essa temática”, defendeu. “ Nos arredores da escola –- eu convido vocês a conhecerem a escola –, há três bocas de fumo, o que mostra a omissão do poder público em sua totalidade. Na medida em que os meninos vão à escola, incluindo as meninas, elas são assediadas pelos traficantes e eu não vi a sociedade, a imprensa, ou seja lá quem for repudiar tamanha violência contra a juventude, como no caso dessa peça! Porque isto é um ato de violência: traficantes assediando crianças à porta da escola. E eu não vejo a mesma reação raivosa que observamos neste plenário e por alguns, em redes sociais! ”, ponderou o parlamentar.
Veras pediu aos deputados para pensarem muito antes de votarem a moção, lembrando a injustiça – e condenação social – cometida no caso da Escola Base de São Paulo, nos anos 90. Segundo ele, uma mentira pode dilacerar a honradez e a dignidade das pessoas, e isso jamais se repõe.
“Não se pode admitir, em virtude de uma situação dessas, que a diretora da escola, que a supervisora, que a vice-diretora, os profissionais da Companhia Hierofante – que eu conheço há muito tempo; são oriundos de Ceilândia e Samambaia; conheço o trabalho –, pessoas trabalhadoras, dignas, honradas, em virtude de um vídeo descontextualizado, sejam criminalizadas. Esse tipo de coisa, por mais que se explique, carrega-se pelo resto da vida, e ninguém, nem a imprensa, repõe a dignidade e a honradez daquele que foi atacado”, destacou.
O deputado finalizou sua fala pedindo que seus pares refletissem! “Pensem no que farão, seja no mérito, seja na forma; pensem quando tentarem, de alguma maneira, direta ou indiretamente, criminalizar um trabalhador digno e honrado, como os profissionais daquela escola e como os profissionais da Companhia Hierofante”, concluiu.