As notícias veiculadas ontem (22) chocaram novamente o Distrito Federal. As informações de que 2 adolescentes haviam sido esfaqueados a caminho da escola e da universidade, respectivamente, preocuparam ainda mais a comunidade escolar. A primeira vítima se tratava de um aluno do oitavo ano, ferido durante um assalto na 914 norte. Uma hora depois do ocorrido, outra tentativa de roubo vitimou um estudante universitário. O jovem foi abordado a 500 metros da faculdade, localizada na 709 sul.
A repercussão suscitou discussões acerca da segurança no perímetro escolar, inclusive no âmbito legislativo. Por iniciativa do deputado Prof. Reginaldo Veras (PDT), estudantes, professores, gestores, sindicatos, associações e representantes da Secretaria de Educação e do Batalhão Escolar tiveram a oportunidade de debater o tema da violência nos arredores da escola na tarde desta sexta-feira (22). Segundo o parlamentar, “é necessário discutir o assunto e encontrar soluções para garantir a segurança dos nossos alunos. A omissão é o nosso maior pecado”, ponderou.
A audiência pública reuniu histórias de docentes que já sofreram ameaças, episódios de violência e até depoimentos de professores que abandonaram as salas de aula por insegurança. Professor do Centro de Ensino Fundamental 4 (CEF 4), de Ceilândia, Cláudio Barbosa, afirmou que “é triste ver uma escola tão ativa e cheia de projetos ser exibida na mídia desta maneira”. Na última sexta-feira, um adolescente entrou a cavalo no local para ameaçar de morte, pela segunda vez, um funcionário que teria chamado a polícia para denunciar o tráfico de drogas dentro da escola.
“Estamos assustados e necessitamos de apoio. Peço que a Casa dê celeridade às votações que envolvem a Educação, sobretudo a segurança escolar”, pediu o docente. O vice-diretor do Centro de Ensino Médio 2 (CEM 2), Júlio Ferreira Campos, desabafou ao usar a tribuna. O professor já foi ameaçado de morte três vezes e acredita que o problema da violência só será resolvido quando houver uma “valorização da estrutura de trabalho”. “Não é só competência da polícia, é preciso inserir outras figuras além do professor, coordenador e diretor nas escolas do DF. A instituição precisa de pedagogos, assistentes sociais e outros profissionais para lidar com os jovens e consequentemente afastá-los do tráfico, por exemplo”, argumentou Júlio.
Medidas preventivas – Questões como o aumento do efetivo do Batalhão Escolar, a revista de estudantes em salas de aula e a varredura policial nas unidades escolares do DF foram amplamente debatidos pelos presentes.
Foi unânime a importância e atuação do Batalhão Escolar, porém a necessidade de aumento do quadro também foi levantada. Segundo o comandante do 1º Batalhão de Policiamento Escolar, tenente-coronel Júlio César Lima, “o Batalhão sofre inúmeras críticas mas está aberto ao diálogo, afinal fazemos parte do sistema de ensino”, esclareceu. O tenente-coronel mostrou dados e defendeu ainda que a inserção dos PMs em sala de aula é uma prática que poderá coibir crimes com o uso de facas.
Já o diretor administrativo do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinepe), Jarbas Toledo Guimarães, afirmou que a varredura nas salas de aulas das escolas particulares não é uma prática bem vista. O diretor entende o cenário, sobretudo na rede pública de ensino, mas esclarece que muitos pais não permitiriam este tipo de ação.
Encaminhamentos – O deputado e propositor da audiência, Prof. Reginaldo Veras, afirmou que “para melhorar a situação da violência, há consenso que são necessárias ações conjuntas e preventivas envolvendo todos os segmentos”, explicou. As medidas também foram defendidas pelo tenente-coronel Robson Cardoso, assessor da Secretaria de Segurança Pública, que argumentou sobre a necessidade de rediscutir o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a questão dos menores infratores, entre outros assuntos pertinentes.
A fim de registrar os debates realizados e encaminhá-los às autoridades competentes, Veras fará um relatório e o entregará pessoalmente ao governador do DF, Rodrigo Rollemberg, e ao Secretário de Segurança Pública, Arthur Trindade.
Além disso, outro encaminhamento será a criação de um grupo de trabalho para dar continuidade à discussão da segurança no perímetro escolar. “Meu primeiro compromisso após essa audiência pública será o de procurar a deputada e presidente desta Casa de leis, deputada Celina Leão, para que ela autorize a CLDF, a Comissão de Educação, Saúde e Cultura – a qual presido -, e a Comissão de Segurança para que busquemos dar início aos grupos de trabalho”, concluiu o deputado.
O tenente-coronel Júlio César Lima aproveitou a ocasião para comunicar aos presentes o reforço de 60 policiais, ainda neste semestre, para atuarem junto ao Batalhão Escolar.
Anna Cléa Maduro (Assessoria de Imprensa)